ESCOLAS BUSCAM SOLUÇÕES:Publicado hoje, 01/11/2024
Caixas para guardar celulares e perda de pontos em avaliações
são algumas das estratégias usadas para que estudantes não se distraiam nas
salas de aula com os celulares pela Escola Estadual de Educação Profissional
Jaime Alencar de Oliveira, em Fortaleza. A escola recebeu nesta quinta-feira
(31) a visita dos ministros da Educação que participaram dos encontros do G20
nesta semana.
Apesar de alguns estados e municípios já restringirem o uso
dos aparelhos nas escolas, o Brasil busca uma norma nacional para regular o uso
de smartphones e outros aparelhos eletrônicos.
Para a estudante Débora de Paula, do 1º ano do ensino médio
da escola, a restrição é bem-vinda. “O celular para fins educativos pode ser
muito bem utilizado, mas a gente tem que ter certos cuidados para que a gente
não distorça um pouco o uso dele. Até porque a gente tem que estar atento ao
que o professor está falando. A gente quer prestar atenção ao conteúdo que está
sendo dado, que é aquilo que a gente vai usar para a nossa vida”.
Débora cursa na escola produção audiovisual. Ela conta que no
curso a estratégia é tirar nota de quem usa o aparelho indevidamente. “Tem essa
outra nota, que é a nota de perfil, que a gente começa com 10 pontos e,
dependendo de alguns pontos a gente vai perdendo. Um deles é o uso indevido do
celular. Então aqui a gente tem esse incentivo de não usar o celular durante a
sala de aula, a não ser quando o professor está pedindo”.
Isso ajuda a própria estudante a controlar o uso também fora
da escola. Na casa dela, ela instituiu até para os pais a regra de usar o
celular só até as 22h.
Fortaleza (CE), 31/10/2024 - Ministro da Educação Camilo
Santana durante visita à Escola Estadual de Educação Profissional Jaime Alencar
de Oliveira. Foto: Ângelo Miguel/MEC
A estudante Lua Clara também está no 1º ano de produção
audiovisual e, da mesma forma, tenta controlar o uso do aparelho. “Justamente
para não sugar a sua energia. Porque às vezes uma adolescente fala ‘nossa, eu
estou tão cansado, com dor de cabeça’. Porque foi dormir às 2h da manhã e
estava jogando um jogo. Então, é controlar, mas se adaptar também”, defende.
Já no curso profissional de eletromecânica, a estratégia é
guardar os aparelhos dos estudantes, conta Allan Sousa, estudante do 2º ano do
ensino médio.
“Eu uso o celular quando o professor permite, inclusive na
minha sala de aula”, diz. “O nosso diretor de turma, ele conversou com os pais
e eles aceitaram fazer uma caixinha onde a gente coloca os nossos celulares. E
a gente só pega se o professor permitir, quando a gente for usar para poder
fazer atividade mesmo”.
Ele também apoia a restrição do aparelho. “O celular é um dos
principais motivos para distrair o aluno em sala de aula. Imagina, o aluno está
tendo uma aula sobre alguma coisa, aí aparece uma notificação do celular que,
às vezes, pode ser mais interessante do que a aula que ele está tendo em si”,
diz o estudante.
O diretor da escola, Kamillo Silva, diz que a instituição
busca um equilíbrio. “A ideia é usar as tecnologias com sabedoria”, diz. “Se há
uma competição muito grande com a questão relacionada à atenção, que o celular
seja diminuído. Se a gente pode utilizar como recurso para a resolução de
problemas, como é o caso da educação profissional e do ensino médio, que ele
seja mais liberado. Então, talvez o desafio seja encontrar esse equilíbrio.
Para nós, para o ensino híbrido, é mais um espaço, é mais uma ferramenta para a
resolução do problema, para a aprendizagem, para a devolutiva das atividades
também”.
Tecnologia no mundo
O uso da tecnologia nas escolas é tema de debate nos
encontros internacionais que ocorrem essa semana em Fortaleza. Foi discutido
tanto nos encontros de educação do G20, que terminaram nessa quarta-feira (30),
quanto na Reunião Global de Educação (GEM, na sigla em inglês), organizada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
que começou nesta quinta-feira (31).
O relatório de Monitoramento Global da Educação (GEM) 2024,
aponta que o uso da tecnologia é muito desigual entre os países. Em países de
alta renda, oito em cada 10 adultos conseguem enviar um e-mail com um anexo,
mas em países de renda média, como é o caso do Brasil, apenas 3 em cada 10
adultos são capazes de fazer isso.
Segundo o diretor do relatório GEM, Manos Antoninis, uma das
mensagens mais impactantes do relatório é a queda na aprendizagem dos
estudantes em todo o mundo. De acordo com ele, essa queda começou a ser
observada em 2010, antes mesmo da pandemia. Entre as razões para que isso
ocorra, sobretudo em países de renda alta e média, como o Brasil, está o uso de
tecnologia nas escolas.
“É irônico porque todos esses que vendem a tecnologia,
prometem que a tecnologia melhora a aprendizagem. A realidade é que quando há
um melhoramento é só para muito poucos. Para a maioria dos alunos há um efeito
negativo”, disse.
Regras nacionais
Nesta quarta-feira (30), a Comissão de Educação da Câmara dos
Deputados aprovou o projeto de lei 104/2015, que proíbe o uso de celular e de
outros aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de aula de escolas públicas e
particulares, inclusive no recreio e nos intervalos entre as aulas.O projeto
segue para a Comissão de Constituição e Justiça.
Pelo PL, o celular pode ser usado apenas para atividades
pedagógicas, ou seja, orientadas pelos professores, nos anos finais do ensino
fundamental, do 6º ao 9º ano e no ensino médio. Já nos anos anteriores, na
educação infantil e nos anos iniciais do fundamental, do 1º ao 5º ano, o uso
fica proibido. O texto, no entanto, permite ainda o uso do aparelho para fins
de acessibilidade, inclusão e condições médicas.
* A repórter viajou a convite do Ministério da Educação.
FONTE: Agência Brasil.