segunda-feira, 6 de junho de 2022

Moradores tentam recomeçar a vida após desastre que matou 128 em Pernambuco.

Gabriel Nascimento teve a casa destruída por barreira na Vila dos Milagres, no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

RECIFE:

Publicado:06/06;2022

Mais de 71 mil pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas e 128 morreram no desastre causado pelas chuvas no Grande Recife. Mais de uma semana após terem as casas destruídas e de perderem parentes e amigos, os moradores dos locais atingidos ainda não sabem como vão recomeçar a vida, sem recursos e sem a presença de quem foi soterrado pela lama.

Jardim Monte Verde, que fica no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, foi a área mais crítica. No local, morreram mais de 20 pessoas no dia 28 de maio. Na comunidade, o que restou foi o rastro de destruição, o barro e o trauma dos moradores.

Uma mulher identificada apenas como Rose é da família em que 11 pessoas morreram após um dos deslizamentos. Ela disse que, além do luto, precisa viver o medo, num lugar onde só se vê tristeza.

Os familiares que tiveram as casas destruídas estão na casa dela e de outra parente. Enquanto alguns dormem, outros ficam acordados vigiando a barreira para o caso de novos deslizamentos. Além disso, segundo Rose, ocorrem saques ao que restou.

"Qualquer batida a gente tem medo, pensa que é barreira arreando e ainda tem o povo saqueando as casas, arrombando, para levar o que sobrou dos moradores. Estamos vivendo em pânico, a gente não dorme direito, a gente não come direito, é um desespero total", disse.

Sobre os saques, a Polícia Militar afirmou que reforçou o policiamento com rondas no local e disse que, caso moradores tomem conhecimento de arrombamentos, acionem a polícia pelo telefone 190, além de formalizar a queixa junto à Polícia Civil.

Na Vila dos Milagres, no Barro, na Zona Oeste do Recife, outros moradores vivem a dor, o luto e a necessidade de voltar à rotina. A comunidade está deserta, com muitas casas vazias e várias destruídas.


Um dos moradores que ainda circulam pelo local é Ivanildo Santos. Desempregado, ele volta todos os dias para alimentar as galinhas. Ele e a esposa tinham acabado de trocar as telhas da residência, mas a barreira deslizou e só deu tempo de pegarem os documentos e correrem.

 

"A gente confiava muito na lona, mas nessa hora a lona não deu conta, não. Me senti indefeso, senti que, a qualquer momento, iria cair outra barreira em cima de mim. Começar tudo de novo, tudo de novo. Vou ter que fazer um esforço para saber como é que eu vou começar, me erguer", contou Ivanildo.

 

O trabalhador autônomo Gabriel Nascimento mora na Vila dos Milagres desde pequeno. Hoje, ele é quem sustenta a família de seis pessoas. O pai foi demitido porque faltou o trabalho depois da tragédia.

Não dá para chegar perto da casa onde ele morava com os pais e três irmãos. Em segundos, tudo desabou. Segundo ele, a família estava acordada porque, momentos antes, outra barreira tinha deslizado. A família dele ajudou no resgate de um casal de idosos.


"Estávamos eu, meu pai e minha mãe em pé. Foi na hora que a gente escutou o estrondo. Eu e meu pai botamos minha mãe e minha irmã para correr e saímos correndo também. Quando a gente correu, a barreira de lado caiu na nossa frente. Foi o maior desastre que a gente viu. Saímos correndo de lado de casa e, quando a gente olhou para trás, a barreira de trás já tinha caído por cima da casa. Só deu tempo terminar de correr", afirmou.

 

Também na Vila dos Milagres, a auxiliar administrativa Adriana Bezerra está morando na casa de parentes, buscando forças para seguir. Ela perdeu a mãe, Tereza, de 82 anos. Antes de o corpo da idosa ser encontrado, uma correntinha que ela usava foi achada em meio aos escombros. Agora, ela não desgruda da joia.

 

"Eu não tenho a mínima ideia de como é que vai ser. A gente sem mãe, e uma mãe guerreira, que estava ali, que, como fala o ditado, era pau para toda obra. Vai ser muito difícil", disse Adriana.


Por Camila Torres, TV Globo


G1 PE.


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