RECIFE:
Publicado:06/06;2022
Mais de 71 mil pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas e 128 morreram
no desastre causado pelas chuvas no Grande Recife. Mais de uma semana após terem as casas
destruídas e de perderem parentes e amigos, os moradores dos locais atingidos
ainda não sabem como vão recomeçar a vida, sem recursos e sem a presença de
quem foi soterrado pela lama.
Jardim Monte Verde, que fica no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, foi a área mais
crítica. No local, morreram mais de 20 pessoas no dia 28 de maio. Na
comunidade, o que restou foi o rastro de destruição, o barro e o trauma dos
moradores.
Uma mulher identificada apenas como Rose é da família em que 11 pessoas morreram após um dos
deslizamentos. Ela disse que, além do luto, precisa viver o
medo, num lugar onde só se vê tristeza.
Os familiares que tiveram as casas destruídas estão na
casa dela e de outra parente. Enquanto alguns dormem, outros ficam acordados
vigiando a barreira para o caso de novos deslizamentos. Além disso, segundo
Rose, ocorrem saques ao que restou.
"Qualquer batida a gente tem medo, pensa que é
barreira arreando e ainda tem o povo saqueando as casas, arrombando, para levar
o que sobrou dos moradores. Estamos vivendo em pânico, a gente não dorme
direito, a gente não come direito, é um desespero total", disse.
Sobre os saques, a Polícia Militar afirmou que reforçou o policiamento com
rondas no local e disse que, caso moradores tomem conhecimento de
arrombamentos, acionem a polícia pelo telefone 190, além de formalizar a queixa
junto à Polícia Civil.
Na
Vila dos Milagres, no Barro, na Zona Oeste do Recife, outros
moradores vivem a dor, o luto e a necessidade de voltar à rotina. A comunidade
está deserta, com muitas casas vazias e várias destruídas.
Um dos moradores que ainda circulam pelo local é Ivanildo
Santos. Desempregado, ele volta todos os dias para alimentar as galinhas. Ele e
a esposa tinham acabado de trocar as telhas da residência, mas a barreira
deslizou e só deu tempo de pegarem os documentos e correrem.
"A gente confiava muito na lona, mas nessa hora a lona
não deu conta, não. Me senti indefeso, senti que, a qualquer momento, iria cair
outra barreira em cima de mim. Começar tudo de novo, tudo de novo. Vou ter que
fazer um esforço para saber como é que eu vou começar, me erguer", contou
Ivanildo.
O
trabalhador autônomo Gabriel Nascimento mora na Vila dos Milagres desde
pequeno. Hoje, ele é quem sustenta a família de seis pessoas. O pai foi
demitido porque faltou o trabalho depois da tragédia.
Não dá para chegar perto da casa onde ele morava com os
pais e três irmãos. Em segundos, tudo desabou. Segundo ele, a família estava
acordada porque, momentos antes, outra barreira tinha deslizado. A família dele
ajudou no resgate de um casal de idosos.
"Estávamos eu, meu pai e minha mãe em pé. Foi na
hora que a gente escutou o estrondo. Eu e meu pai botamos minha mãe e minha
irmã para correr e saímos correndo também. Quando a gente correu, a barreira de
lado caiu na nossa frente. Foi o maior desastre que a gente viu. Saímos
correndo de lado de casa e, quando a gente olhou para trás, a barreira de trás
já tinha caído por cima da casa. Só deu tempo terminar de correr",
afirmou.
Também
na Vila dos Milagres, a auxiliar administrativa Adriana Bezerra está morando na
casa de parentes, buscando forças para seguir. Ela perdeu a mãe, Tereza, de 82
anos. Antes de o corpo da idosa ser encontrado, uma correntinha que ela usava foi achada em meio aos escombros. Agora, ela não desgruda da joia.
"Eu não tenho a mínima ideia de como é que vai ser. A
gente sem mãe, e uma mãe guerreira, que estava ali, que, como fala o ditado,
era pau para toda obra. Vai ser muito difícil", disse Adriana.
Por Camila Torres, TV Globo
G1 PE.
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